1. As asneiras do governo (sobretudo as autistas) foram pagas. Também é para isso que serve a democracia. O eleitorado fez cumprir a regra. Nesse aspecto, nada a dizer. Pelo contrário.
2. O voto de protesto é circunstancial. Tem um poder especialmente corrosivo quando se vai a meio caminho entre receitas e resultados. Essa leitura, embora inquantificável, não pode deixar de ser feita.
3. O PS cumpre, deve cumprir, uma legislatura que ainda vai no início. E, neste aspecto, concordo com
Vital Moreira quando ele diz:
O pior que poderia suceder era, para além de negar o inegável, interiorizar a ideia de que é preciso suspender ou interromper o caminho das reformas, só para recuperar a curto prazo o favor dos descontentes. Para além de um mais eficaz esclarecimento público das políticas adoptadas, o voto de protesto que explica uma parte dos resultados eleitorais só deve suscitar um reforço do ânimo para levar a cabo a obra de disciplina das finanças públicas, de reforma administrativa, de recuperação económica do Pais e de salvamento do Estado social.. Ou seja, dito pela minha forma, Sócrates não deve comportar-se como se comportou Guterres.
4. Se o governo for capaz de imprimir uma dinâmica positiva, reformadora mas mobilizadora, com projecto e meta à vista, demonstrando que aprendeu com mas não desiste por estes resultados eleitorais, os exploradores de lamúrias do percurso pagarão as canas da festa antecipada lá mais para a frente. Tanto mais que os protestos sonantes vêm agora de camadas activadas por reflexos defensivos e indefensáveis de distinções corporativas que os colocam acima dos que mais precisam e menos têm. E, mais cedo ou mais tarde, a contradição (disfarçada em termos de luta) entre forças igualitaristas e o apoio e incentivo que agora prestam a qualquer protesto (mesmo os mais elitistas), acabará por estalar. Basta que a classe operária e restante proletariado se apercebam da traição de princípio, por via da actual deriva populista, praticada pelo partido que se arroga da sua defesa e representação.