O bispo de Nampula não foi perseguido pela PIDE, foi, isso sim, vigiado 24 horas por dia, com a PIDE a conseguir informações muito confidenciais. Deduzo que alguém muito próximo de Vieira Pinto nunca identificado nos relatórios fosse a fonte, até porque a PIDE refere por diversas vezes que se trata de fonte melindrosa.
Só assim se explica que a polícia política continue a relatar à sede, em Lisboa, e ao ministro do Ultramar, pequenos gestos do quotidiano de Vieira Pinto acarinhava os pretinhos, visitava-os nas suas palhotas e, quando algum lhe retribuía a visita, se porventura se encontrava à mesa, não tinha rebuço em fazer sentar o visitante, sem olhar à sua condição social, maneira como vestia ou se apresentava (4 Novembro 71)(do livro de Pedro Ramos Brandão, A Igreja Católica e o Estado Novo em Moçambique, Ed. Notícias)
Deste trecho do livro de PRB, ressaltam dois aspectos documentados só possíveis pelo acesso que, hoje, os historiadores têm aos arquivos da Pide/DGS:
- Prova de que a maior eficácia da acção da PIDE assentava na infiltração de informadores e o seu recrutamento a todo os níveis. No caso, em que o bispo de Nampula D. Manuel Vieira Pinto (que acumulou também com a direcção da diocese da Beira), pelas suas posições pastorais, era considerado um subversivo perigoso, alguém bem colocado na hierarquia religiosa e muito próximo do bispo era uma fonte melindrosa da PIDE.
- A linguagem de relatório da PIDE, em que a cultura colonial da instituição se manifestava genuinamente (e em 1971!) subversões graves eram acarinhar pretinhos, visitá-los nas palhotas e recebê-los, deixando-os sentar (sem rebuço!) .