Mas a situação tem de mudar. É uma questão de sobrevivência nacional. Não se trata de uma mudança de instituições, ou de um reordenamento de poderes. Todos, à esquerda, parecemos estar de acordo em que a estabilidade e o equilíbrio são necessários nos próximos anos. Trata-se, sim, de uma transição clara da indignidade para a dignidade. Uma afirmação de decência que marque a diferença em relação ao já visto, ao mais do mesmo, que os candidatos repetentes inapelavelmente evocam. Não tenho de estar de acordo com tudo o que Manuel Alegre diz ou faz. Mas não me consta que esconda amizades equívocas, rabos de palha, telhados de vidro, nem me parece que sirva para capacho de banqueiros e magnatas ou para gasalho de demagogos e populistas. Conhecidos de todos são o seu empenhamento cívico, corajoso, de homem livre, o respeito pelos compromissos e a assunção plena, desassombrada e muito manifesta da cidadania. E uma cultura política invulgar que o faz saber do que fala, o que não tem estado ao alcance de todos. Uma última nota. Certo incidente, de contornos ainda difusos, levou os nossos maquiavéis de esquina, alcibíades de vão de escada, e bórgias de pataco a comentar, muito ovantes, que em política não há amigos. A ideologia dominante tem destas evidências. Mesmo que se aceite que exigências da vida política abatam sentimentos e afectos, a minha evidência é a de que também há limites para a deslealdade.
Mário de Carvalho (Escritor e apoiante de Manuel Alegre)(texto completo a ler
aqui)