Fiz várias campanhas, colei catrefas de cartazes, nunca por isso ganhei e o (tentar) pagar seria insulto. Quanto a presidenciais, lembro-me bem da última em que dei o corpo, a mais ingrata e a mais insólita. O Centro de Trabalho do PCP de Benfica abarrotava de cartazes do Zenha. Eram horríveis, com um grafismo derrotista, coisa medonha, feita por gente de pouca fé. Mas estavam feitos e tinham sobrado (só) para nós. Havia o ZAP (Zenha à Presidência) mas os zaps (eanistas e outros tais) não colavam cartazes, seriam poucos e para aí não estavam virados. A nós, aos apoiantes disfarçados, talvez os promotores [ou seja, a direcção em nosso nome], cabia-nos o trabalhinho, porque senão a cara do candidato nunca olharia das paredes. Mas, como a coisa era disfarçada, só nós é que podíamos saber que apoiávamos e promovíamos o Zenha, a operação tinha as suas especiais urdiduras, tipo trabalho assim que a modos de semi-clandestino. As cargas de papel eram retiradas a altas horas da noite, havia pontos de encontro com os do pincel, cola e escada, nada de distintivos ou coisas que descompusessem a marosca, ala moço e as fotos promotoras do Zenha lá foram enchendo a cidade. Fez-se com afinco, melhor ou pior, porque Soares é que não. O resultado não foi honroso por causa dos péssimos cartazes, porque o disfarce ZAP não enganou ou não convenceu quem devia, por causa da estalada no Soares na Marinha Grande, mais coisas assim, acabámos todos encafuados num Pavilhão da Reboleira, em Congresso Extraordinário, mobilizar o não dito por dito e o dito por não dito, para, na segunda volta, engolirmos o sapo Soares. Enfim, trabalhos e campanha para esquecer, não fosse o eterno interesse em que nada esqueça.
Agora, no caso com Manuel Alegre, muito (ou tudo?) mudou. Estou em campanha sem para isso ter recebido orientação ou sequer sinal. Porque estou. Não sei se ainda me acham com préstimo para pegar no papel, no balde de cola ou segurar a escada. Se sim, ainda sou capaz de dar um jeito. Logo se verá.
Mas, ajude no que ajudar, esta é a minha primeira campanha em que recebi, logo na pré, um pagamento. E já está depositada na conta à ordem. O meu estimadíssimo companheiro
Teixeira Pinto, um dos que mais animou as conversas do tempo do
Bota Acima, há muito desaparecido em combate (tusa para a tese, meu caro!) , reapareceu e aí está com toda a genica, no mesmo barco. É caso para dizer:
Até que enfim, carago! Vamos a eles, coma-se a relva, se preciso fôr.