O Setúbal ganhou ao Braga, em Braga. O Braga andava inchado com a sua carreira. O Setúbal tem os ordenados em atraso aos seus jogadores há vários meses, o que não tem faltado ao Presidente da agremiação que continua a receber “o seu”. Segundo dizem, uma base da ascensão do Braga é a sua impoluta e rigorosa gestão do plantel e do património. Com este resultado, o Setúbal subiu e o Braga desceu. Por mim é igual, o meu clube continua atrás do Braga, do Setúbal e mais uns tantos. E disso não reclamo pois o meu clube não está a jogar a ponta de um corno. Portanto, amanhem-se.
Depois de ver o jogo (20% de bom jogo, 80% de péssimo futebol), leio
aqui, da autoria do
caro Eugénio este esclarecedor elogio ao PROFISSIONALISMO dos de Setúbal:
“Basta pôr os olhos nos sadinos e como mostram o seu PROFISSIONALISMO. Sim, em maiúsculas. Quando um empregado tem os seus vencimentos em atraso e se dignam a mostrar o futebol que hoje mostraram - e têm mostrado - ao longo deste campeonato... (...), só lhes posso tirar o chapéus (digitalmente falando claro). É por isso que louvo o seu Profissionalismo... e quem duvidar que se mostre melhor!!!!!.”Há muito que não lia um tão rasgado elogio aos méritos colaterais de acicate, de emulação, talvez autêntica escola de virtudes, pela entrega e pelos resultados, à situação de “os empregados” terem os “salários em atraso”. Ou uma apologia indirecta à exaltação de Mário Soares que “endireitou” a governação (e não endireitou nada, levou a governação até à s mãos do Cavaco), como Primeiro Ministro, exactamente quando os “salários em atraso” se tornaram quase prática patronal corrente neste paÃs. E, curiosamente, com especial incidência no distrito de ... Setúbal.
Discordo, carÃssimo. O que se passa no Setúbal é uma vergonha de todo o tamanho. Uma das maiores vergonhas no futebol português. Com o “Presidente” a arrecadar certinhos e garantidos uns milhares de euros por mês, enquanto os que jogam vivem da esperança de virem a receber o que lhes é devido, é uma sobre-exploração inÃqua. E, por favor, não se chame profissionalismo à vontade de cumprir, ultrapassando-se, para que lhe seja pago o que foi contratado. Isso é, quando muito, a força do desespero de cumprirem tanto que leve outros a cumprirem o mÃnimo, o devido. E o meu caro tira o chapéu a esta força anÃmica e associal?
O
Eugénio convida “quem duvidar que se mostre melhor”. Eu digo-lhe: profissionalismo é cumprir os compromissos, ser profissional, sem permitir que “outros”, à sua custa, não o sejam. Abdicar ou interromper usufruto dos seus direitos legÃtimos, esgatanhando-se no seu mister, é cultura de escravo, não de profissionais e de homens livres.
Não tenho nada contra o Setúbal ser, até, Campeão. Que o seja, pelo menos para alegria de tantos, incluindo pessoas que estimo (o
Eugénio por causa do “profissionalismo” dos sadinos e o
Carlos Gil que está ansioso de ver um pequenino como Campeão). Mas será uma desgraça, como sÃmbolo e exemplo, que o seja em resultado da energia da iniquidade. E não podemos esquecer que o futebol é exemplo condutor da nossa cultura socializada. Pelos vistos, a Mário Soares tudo se perdoa, até as malandrices que fez. Ele é Fixe e Super, até e quando convém. Mas não se “soarize”, no seu pior, os restos deste PaÃs, incluindo o futebol. Já basta o que basta.